PEQUENO ACIDENTÁRIO

HOUVERAM MORTOS
COMO EM TODO CANTO
SUICIDAS DECEPANDO A NOITE
CORPOS E NARCISOS
AFOGADOS EM LÍQUIDO VISCOSO
AVIÕES CAÍRAM
COMO SONORAS BOLAS DE FOGO
ONDAS ESTRANGULARAM COSTAS
TREMORES NA PELE DA TERRA
CARROS ESPATIFADOS
COMO ISOPOR CONCEITUAL
AIR BAGS E VELOCÍMETROS INCAPAZES
HOUVE MERCADORIA ROUBADA
NO LINDO JARDIM DOS POTES
PRATICIDADE CANCERÍGENA
FINDOS DOIS MINUTOS
DIETA PERFEITA PARA OS URBANOS
HOUVERAM PRESOS ILIMITADOS
GALINHA PRA FOME DE MESA VAZIA
ENQUANTO NOTAS REAIS BOIARAM NO ESGOTO
HOUVERAM PERDAS
DE RESPEITO PELA QUERIDA FLOR DA MONTANHA
DE DIGINIDADE PARA CERTAS CORJAS
HOUVERAM GUIAS DESVIRTUADOS
PELO RASGAR DE TANTOS OUTROS
HOUVE SORRISO NA BEIRA DA ESCADA
ESCARRANDO TOLICES BÊBADAS
HOUVERAM COLOSSAIS EMBATES
TROMBADAS DE GENTE
RIOS E SOMBRAS DE IDEIAS OUTRAS
DE PEQUENAS NOVIDADES
DE EXTENSAS PROFUNDIDADES
HOUVERAM FUMAÇAS DENSAS
QUEIMANDO PULMÕES E BRADOS
RESISTÊNCIA MUNIDA DE CORAGEM
SABEDORIA RECOLHIDA
DITADA A FERRO E FOGO
APRENDIDA NOS DELÍRIOS
ARROTOS ESTRONDOSOS
NA EDUCAÇÃO COMUM
CRITAIS ESAPATIFADOS
FACA PRESA NA PORTA
HOUVERAM ANJOS INSINUANTES
FULGURANTES EM SUAS GENITÁLIAS
PISCANDO OLHOS
VERTENDO SEXO EXPOSTO
HOUVERAM GRANDES ADEUSES
PROVANDO A RUDIMENTAR NECESSIDADE
CUSPINDO A VALIDADE DO CORPO
HOUVERAM BARES, ESTAÇÕES
HOUVERAM TRENS ILUMINANDO A NOITE
JANELAS QUEIMADAS DE VAGÃO
CONFLUÊNCIA FILARMÔNICA DE TRIBOS
ARVORES CAÍRAM
TELHADOS DESABADOS
HOUVERAM CIDADÃOS COMUNS
COLOCANDO CORDAS EM PESCOÇO
SUBESTIMANDO A LIBERDADE
ENCONTRANDO SAÍDA
SUGANDO A TETA DE PORCAS
ENGASGANDO VENENOS
HOUVERAM TANTOS SONHOS INDO PELO RALO
HOUVERAM TANTOS PATUÁS
HOUVERAM TANTOS
HOUVERAM COMO MAIS UMA ESTRELA NO CÉU
EXISTIRAM PRA NÃO SE ESQUECER
EXSITIRAM ENQUANTO UMA VIAGEM ALUCINÓGENA
UM FULGOR
UM ACIDENTÁRIO TURBILHÃO DE PASSAGENS.

ODÉCIO CALIGARI