"Para aqueles que ardem no fogo das vaidades e nunca inflamam a chama do talento". (Odécio Caligari)
A madrugada me engoliu os miolos.
Acredite. Contigo já aconteceu o mesmo, tenho certeza. Em noites onde não há
sono, e apesar da ausência dele, o cansaço existe. Entende? Ainda mais você que
também é um cidadão comum, que é outro qualquer no mar da sociedade. Eu não.
Não sou comum, não sou mais um. Apenas não tive a oportunidade de me verem os
dotes, grandes, em suas várias formas. Sem exageros, minha voz é timbre
perfeito, conforme disse o jurado no último concurso de calouros que
participei. E aquela cena de nudez, na última peça onde fui o protagonista.
Aquela em cartaz durante longos meses no teatro “CRONOS”. A crítica não
entendeu. Quem liga? Eu não ligo, só sinto. E meus quadros pintados segundo o
conceito avantgarde, mistura que não foi observada da maneira correta. Afora os
longos poemas escritos, nunca publicados, mas que venceram em quarto lugar o
Concurso Poético. Não me importa se haviam apenas três prêmios. Nada aconteceu
depois disso. Os editores não leem essas publicações. O mercado editorial está
essa merda por conta deles. Não me entendem nunca. E meu último vídeo arte?
Cerca de 30 acessos no youtube, estes sim deveriam ser os mandachuvas dos culturatis.
Mas são gente anônima. Eu não. Já produzi shows de expressividade mediana
confesso, mas como realizar algo profissional nesse fim de mundo? Ninguém aqui
vai querer ouvir Caetano Veloso e não permito receber apenas 30 pessoas como
público. Também não sujo minhas mãos com essa cultura musical baixa, essas
palermices que rendem um bom dinheiro. Será que estou no caminho errado?
Lembrete, entrar em contato com empresário do bailão proibidão, do seu te pego,
chão, chão, chão. Não tenho coragem, e assim a carteira vai continuando vazia.
Aguardo até o fim dessa semana a resposta do teste que fiz pro curta “Me diga
quem sou”, abriram vagas para figurantes e posso ser descoberto. O diretor
elogiou meu tropeço proposital na cena onde o protagonista corria. Ele até
apertou minha mão. E nesse maldito momento nenhum paparazzi por perto, ninguém
pra registrar esse momento. Tentei o twitter, mas quem acredita em quem não tem
sobrenome artístico, aquele pedigree? Além disso, hoje, todo mundo tem foto com
artista famoso. E eu que passei o pão que o diabo calorizou, malhando de sexta
a sexta com uma puta dor nos ombros de tanto levantar ferro para fotografar bem
no vídeo. E justo eu que sou adepto ao padrão perfeito. Não aceito isso goela
abaixo. Posso tentar ser stripper, naquelas cabines, um dinheiro a mais e de
repente algum diretor pode me ver e me desejar, aí então é meio caminho andado.
Lembrete, gravar fita de inscrição para Big Brother. Aí sim, se eu entrar, aí
sim eles verão meu talento. Posso causar um alarde e até mesmo dizer que sou
bissexual, as plateias estão sempre em busca desses casos FORA DO COMUM pra
continuar acompanhando os reality shows. Galgo mais um degrau. Será que o
jornal de amanhã vai trazer aquela notinha sobre minha participação na festa de
lançamento da novela das oito? Estive bem perto da Marta Jurema, e bem na hora
da foto da colunista social. Por falar nisso, quantas horas? Seis da manhã, será
que a banca já abriu? Será que virei notícia?
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