segunda-feira, 28 de abril de 2008

adorno e o canto da manhã

acordado no cinza da manhã
com a madrugada ainda por dentro
em outras partes de mim o mim desaparece
reaparece após o pesadelo
pesado e amarrado no corpo
amansado no eterno terno das coisas
adornado de cravos escapados da colheita e do fervor
eu parado e aniquilado de tanto afinar gritos
canto de índio sem tribo
regurgito certas genealogias logo pela manhã
mas justo hoje que o cinza é molhado
escorrido do céu desarvorado
o desaforo é da minha alma
que penaliza sem pena
que aponta dedos sem direções
e me persegue em arrepios de alvorada
eu sentado
apertado em lágrimas
que podiam cair de outros céus
de outros planetas
mas miro esta passagem só de ida
falta ainda esperar a caminhada da minha carne
sendo humano em processo
parando para pausas
recusas doces de um favor não feito
de um agradecimento só
remendado com trapos e linhas
na costura e na alvura do tempo
é ruim acordar nestas manhãs
que cortam o sentimento e te colocam a par
no ímpar de si mesmo
desafinado, em outro tom
regendo a orquestra do mudo
do fora de época
é ruim acordar nestas manhãs
desvencilhar o sono
querer arruinar o dia antes da hora marcada
e saber a sina
sem sino que toque e dê sinal de indicação
o dia levanta-se e com ele a minha desvaria
que leva a outro rumo e não ao meu
que avista outra forma do sentido
porém é tarde nesta manhã
é sono neste acordado