auto brasilis
acordei insatisfeito com o mundo
com a américa do sul e suas fronteiras
sem barreiras para fugitivos
apontando o furtivo doce Brasil
com suas proezas malditas de terra em consumo
com sua sacanagem mal terminada
com seu gozo sem conversa no fim da estrada
estou cansado de esperar na fila a minha vez
nessa embriaguez de muamba
aguardando um canto, um samba em terreiro de umbanda
saindo da classe média para cair na malandragem
colocando colarinho branco e criando coragem
desafinando meu desejo
no sem ermo fim da avenida paulista
aportando nos confins da terra brasilis
falando tupinambá
roubando jabá para matar a fome do sertão
tendo selva nos olhos
tiroteio na cidade
aceno de mãos
saindo ileso desse caos retumbante
parando cambaleante
segredando profecias
pensando em demasias
vertendo uma nação
não querendo meu país
não querendo a corja brasiliana de gravatas e blindagem
não querendo minha natureza humana de homem selvagem
sem caça para caçar
vivendo na floresta
torcendo cadeia alimentar
sem papel verde para ter
sem alma para vender
nesse transe de bagulho barato
querendo entrar em cena no 2ºato
sem favela e pôr-do-sol de fumaça
misturando cor e tendo medo de raça
sem cristo de braços abertos e tanta besteira inútil
me cansando dessa enganação fútil
vou tomar meu porre de pinga amarela
colocar meu pijama nesse apela-apela
dormir e sonhar que acordo o país
e por um triz, de nariz vermelho
no picadeiro
abrir meu berreiro
gritar palavrão
entrar em combustão
propinar
opinar
aguardar
país meu país, onde andará sua pureza?
escondida no rabo dos urubus ou nas castanhas de caju?