segunda-feira, 28 de abril de 2008

Mudança

Ah mãe que saudade sua
Lembra quando eu segurava o novelozinho de linha amarela
A senhora trançava ponto por ponto o crochê caprichado
Cada carreira de uma cor, um quadro feito de pedaços
uma florzinha reinando no centro de cada um
A senhora dizia em recusas o sonho de ter piso de cerâmica no quarto
Para usar a colcha na cama sem dobrar suas franjas
Pois é mãe
Hoje a casa inteira tem piso de cerâmica igual ao seu desejo
A colcha está estendida sobre a cama com as franjas ilesas no chão
Mas não há teu olhos de contentamento, não há aquele suspiro
Aquele frenesi de criador lambendo a criação
Você partiu antes de ver tanta coisa mãe
Deus te chamou tão no repentino
Sem permissão, sem consulta
e agora tudo que a lembrança ascende
Lembra a senhora
Lembra o seu cuidado, lembra a alegria que a casa perdeu