segunda-feira, 28 de abril de 2008

Pequenas divagações. Deitado na rede pensando em Bartolomeu Campos de Queirós.
O vô Bento sombreava em cada árvore que podia. Bastava encontrar graminha verde, sol a pino e passarinho de canto longo que embotava por horas. Era homem sem intelecto formado, mas de grande vontade: - De que adianta saber o mundo, isto pertence a Deus. O que me cabe é um bocadinho de saber ler e somar. – Para os filho não armava futuro longe de pés descalços e calos nos vãos dos dedos. Parecia que de outra paragem a vinda dele para o lugarejo onde moram até hoje, rondava de segredo. Chegou de malas prontas, sem destino e rumo. Apareceu por aparecer mesmo. Quem não o conhecia, optou por acreditar que estranho em terra de calmaria é perigo na certa. Tentaram invadir seu limite interno com pontos de interrogação e prosas sem fim. Não adiantava. O vô Bento não cedia a curiosidade alheia. Contam que ele contou da sua vinda pra poucos e escolhidos. Eu mesmo não sabia quem sabia da história dele. Ele inventava um jeito próprio de provar a vida. Trabalhou, comprou terra, casou com vó Rita e parou com quatro filhos criados. Regrado na essência, tinha trejeitos e ritos pra tudo que fosse. Tomar café com a mão esquerda, cortar fumo com canivete amolado à meia noite, em pedra pomes, escanhoar a barba em lua minguante, colocar a mão no barro para curar doença. Eu queria ser como ele. Enfeitar a existência com provações das mais diferentes e nunca enjoar porque todo dia era dia novo e pronto para ser preenchido com sabedoria e descobertas.