remeta-me os dedos ao invés de palavras
não troque o envelope de meu sentimento
assine com o corpo e sem pontos finais
esses seus olhos que não viram selo
me afligem em cada remetente
que angústia esperar essas frases impessoais
me recorre um mata borrão nessa escrita fina
nessa caneta sem tinta
carimbe então o que resta
mas não me venha com ceps
com correspondência devolvida
não me engane, eu sei teu endereço
porque essa paixão de destinatário
logo agora que tudo estava resolvido?
agora que minhas correspondências estavam guardadas
naquela caixa de madeira que odiava
quero logo direito de resposta
quero lamber o selo sem cola
selar esse segredo que vai por mãos que desconheço
sem pombo correio, sem alvoroço
me transformo em escrita para falar o que podia ser
o que talvez quisesse dizer ao seu ouvido e reverberar
ao contrário desse papel passivo que recebe, recebe
que não questiona, que não sente pena, que...
sem pressa continuo
é só mais uma carta, a última
depois volto para o esquecimento de espera
maldita caixa de correio que me acusa sempre que entro onde moro
que me lembra que espero algo seu
que aponta minha resposta ainda não respondida
que me farta de ansiedade
fico então como pausa
como envelope branco de pavor
como máquina sem tinta para escrever
como selo sem carta
como endereço inexistente
abro a caixa do correio
pego com as duas mãos
o papel com tua letra
e repito a farsa de não te esquecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário