quinta-feira, 29 de setembro de 2011

cartas e remetente



remeta-me os dedos ao invés de palavras

não troque o envelope de meu sentimento

assine com o corpo e sem pontos finais

esses seus olhos que não viram selo

me afligem em cada remetente

que angústia esperar essas frases impessoais

me recorre um mata borrão nessa escrita fina

nessa caneta sem tinta

carimbe então o que resta

mas não me venha com ceps

com correspondência devolvida

não me engane, eu sei teu endereço

porque essa paixão de destinatário

logo agora que tudo estava resolvido?

agora que minhas correspondências estavam guardadas

naquela caixa de madeira que odiava

quero logo direito de resposta

quero lamber o selo sem cola

selar esse segredo que vai por mãos que desconheço

sem pombo correio, sem alvoroço

me transformo em escrita para falar o que podia ser

o que talvez quisesse dizer ao seu ouvido e reverberar

ao contrário desse papel passivo que recebe, recebe

que não questiona, que não sente pena, que...

sem pressa continuo

é só mais uma carta, a última

depois volto para o esquecimento de espera

maldita caixa de correio que me acusa sempre que entro onde moro

que me lembra que espero algo seu

que aponta minha resposta ainda não respondida

que me farta de ansiedade

fico então como pausa

como envelope branco de pavor

como máquina sem tinta para escrever

como selo sem carta

como endereço inexistente

abro a caixa do correio

pego com as duas mãos

o papel com tua letra

e repito a farsa de não te esquecer.

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